A revista História Viva de julho de 2007 trouxe um dossiê suculento para quem quer saber como se fazia guerra da Idade Média. Vou destacar curiosidades que mostram que a guerra, embora ficasse longe do agito retratado em filmes e games, certamente era bem mais rica do que a imagem repetida à exaustão por esses mesmos filmes e games.
- A ligação de religião e guerra, parcialmente motivada por interesses compartilhados entre clero e nobreza, culminou no apoio do papa às Cruzadas, mas também nos feriados com os quais a Igreja tentava diminuir os conflitos entre os barões europeus. Pois é, a sagacidade de uns padres medievais explica porque você pode ficar à toa certas terças-feiras.
- O lúdico marcou forte presença no cotidiano militar do período. O treinamento de cavaleiros se aproveitava de práticas esportivas; duelos na frente de castelos sitiados realmente decidiram o futuro de feudos inteiros; as manobras das tropas seguiam regras semelhantes a dos jogos; e os campos de batalhas abriam espaço inclusive para desforra de pobres contra ricos.
- A teoria da guerra mais completa a ser pensada na Idade Média é de autoria de uma mulher, Christine de Pisan, cujo manual de estratégias militares foi um best-seller entre os homens de armas do século 15
- A cavalaria não era lá grande coisa numa batalha. Os cavaleiros costumavam cavalgar até o campo de batalha, onde lutavam à pé, em parte porque eram indisciplinados demais para conseguir uma investida coesa como aquelas que vemos nos filmes.
- A composição das tropas ia além de senhores e vassalos unidos por votos de lealdade. Os mercenários, soldados que lutavam por dinheiro, constituíam uma força militar indispensável, principalmente para as cidades italianas e para os monarcas que pacificavam seus territórios.
- Os mercenários eram contratados para defender igrejas e suplementar os exércitos de um senhor feudal. Com o tempo, os reis passaram a contratá-los com exclusividade — nasciam assim os exércitos nacionais.
- Na Itália, os condottieri vendiam habilidades de combate para cidades como Veneza e Pisa. Pesaram consideravelmente nas intrincadas disputas políticas do renascimento italiano. O mais famoso dos condottieri, Bartolomeo Colleone, ganhou até uma estátua, que reproduz sua cara de mau, seu capacete, seus olhos vidrados de soldado sanguinolento.
- Se a lealdade ou o dinheiro podiam separar um mercenário de um vassalo, ambos ficavam quites no hábito de saquear as terras conquistadas tão logo a batalha amainava, e geralmente embolsavam o saque, deixando seus senhores a ver navios.
A edição de junho da História Viva também traz ilustrações das principais armas medievais (armadura de cavaleiro, besta de tiro, catapulta, arco e espada). Uma matéria da revista explora a função militar dos castelos, sua importância econômica e suas mudanças arquitetônicas, fechando com as dez melhores táticas de invasão.
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